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CONFIRA NA EDIÇÃO DO MÊS: Edicao nº 388 - Fevereiro de 2012
Lição de Economia
ECOLOGIA
Experimento com cursos d’água artificiais mostra que diversidade de espécies permite divisão do trabalho e ganhos de eficiência na remoção de poluentes
Bruno Maçães
O excesso de nitrogênio nos rios, resultado do uso de fertilizantes e da descarga de esgotos, causa o rápido crescimento de plâncton, que por sua vez consome todo o oxigênio dissolvido na água. Além de esgotar o oxigênio, esses organismos geram substâncias tóxicas aos peixes e ao gado que bebe a água contaminada. Compostos de nitrogênio como nitratos e nitritos também são tóxicos ao ser humano e causam sérios problemas de saúde. Nos oceanos, a proliferação de algas produz mais de 245 mil km2 de “zonas mortas” em mais de 400 regiões costeiras do mundo. O impacto econômico desta forma de poluição faz de seu controle uma prioridade de política ambiental.
Bradley Cardinale |
O aparato experimental utilizado por Cardinale. |
Bradley Cardinale |
Imagem ao microscópio mostra diversas espécies semelhantes às usadas no experimento feito na Universidade de Michigan.Tais organismos habitam os rios e removem diversos poluentes da água. |
Os métodos de limpeza do nitrogênio são custosos. Felizmente, esses poluentes podem ser removidos por processos naturais. Vários tipos de algas são capazes de incorporar nitrogênio da água sem reduzir seu nível de oxigênio.
Bradley Cardinale, da Universidade de Michigan, demonstrou experimentalmente que quanto maior a variedade de algas numa determinada correnteza, maior a eficiência com que os poluentes são retirados. A hipótese de que uma diversidade maior de espécies num determinado local – cada qual explorando oportunidades distintas de obter sustento – aumenta a captura de recursos do ambiente remonta a Charles Darwin. Contudo, até o momento ninguém tinha demonstrado diretamente esta ideia. Havia apenas argumentos teóricos e análises estatísticas de observações feitas na natureza.
Além de apoiar fortemente a hipótese de que comunidades com mais espécies tiram maior proveito das oportunidades disponíveis no ambiente que ambientes pobres em espécies, o experimento de Cardinale mostra qual é o mecanismo através do qual esse aumento de eficiência acontece. A causa é a divisão do trabalho, descrita em 1776 pelo economista escocês Adam Smith. Smith mostrou que, para se fabricar simples alfinetes, é melhor empregar o trabalho de várias pessoas do que o de apenas uma. Isso parece contra-intuitivo, mas se uma pessoa fosse fabricar um alfinete sozinha, ela demoraria dias, talvez meses, para fazê-lo. Quando se divide o trabalho e cada pessoa se especializa em uma tarefa, cada etapa individual é feita com muito mais rapidez.
Isso foi exatamente o que aconteceu no experimento de Cardinale. Ele montou em seu laboratório 150 calhas que faziam o papel de cursos d’água artificiais, e em cada qual introduziu quantidades diferentes de tipos de algas (1, 2, 4, 6, ou 8 espécies). O ambiente dentro das calhas variava, para criar um número alto ou baixo de nichos ambientais. Em algumas calhas a velocidade da correnteza mudava de local para local. A frequência com que elas eram mexidas com uma escova também era variável. Isso permitia que sucessivas espécies habitassem um local em diferentes intervalos de tempo depois que a perturbação ocorria. Algumas espécies, por exemplo, colonizavam um local recém perturbado primeiro, mas eram em seguida substituídas por outras que competiam com elas. Cada espécie, assim, progredia no ambiente ao qual estava mais adaptada. Em seguida, Cardinale mediu a quantidade de nitrogênio que era capturada em cada calha. Na média, as calhas com oito espécies removiam esta substância 4,5 vezes mais rápido que as com apenas uma espécie.
Nas correntezas com habitats mais simples, Cardinale notou que um pequeno número de espécies era suficiente para ocupar todos os nichos disponíveis, contanto que espécies adaptadas àquele ambiente estivessem presentes. Habitats mais complexos requeriam a presença de várias espécies para que o uso do ambiente fosse mais completo e a eficiência na retirada de nitrogênio maior.
Esse estudo tem implicações práticas. Ele mostra que é importante conservar a biodiversidade de um local – como alertam os ambientalistas – mas também sugere a possibilidade de se administrar a limpeza de poluentes inoculando em rios uma grande variedade de microorganismos. Esse achado foi publicado na revista Nature no dia 7 de abril.
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